PASSEIO VERDE – Turismo de Árvores em São Paulo
Designer cria turismo de árvores em São Paulo 6 de agosto de 2010 Marici Capitelli Pode-se dizer que são turistas. E dos mais diferentes: visitam árvores da cidade como se fossem obras de arte. E à frente desses grupos de exploradores urbanos está a paulistana Juliana Gatti Pereira, de 29 anos. Organizadora e idealizadora do que chama de passeio verde, ela mostra durante o roteiro detalhes nas árvores que passam despercebidos para a maioria das pessoas. Um exemplo é o fruto da chichá, árvore encontrada em Perdizes, que tem formato de coração. São informações como essa e não apenas técnicas que ela ensina sobre as espécies durante os roteiros turísticos. Designer, formada pela Belas Artes, Juliana começou a prestar mais atenção nas árvores há quatro anos. “Alguma coisa”, como ela mesma diz, reacendeu dentro dela trazendo de volta as lembranças das férias escolares em meio a árvores, na casa dos avós em Tietê, interior de São Paulo. Com o olhar de designer, conseguia identificar nas árvores paulistanas nuances únicas em cada uma das espécies que encontrava pelo caminho. “Eu conseguia perceber a arquitetura das copas e o desenho das folhas.” Juliana foi estudar Botânica na USP. Fez curso de paisagismo, jardinagem e saiu em busca delas pelas ruas. O resultado é que acabou identificando muitas árvores. Se você quiser saber onde tem ipês, é só perguntar. “Os mais belos, você vai encontrar nos cemitérios.” O amor pelas árvores acabou provocando uma mudança na sua vida profissional. Ela abriu uma empresa sustentável, a Árvores Vivas. Foi a transformação da paixão em negócio. Entre os produtos ecológicos que oferece, estão os passeios verdes. Os grupos são heterogêneos. Num dos roteiros, as crianças fazem broche de folhas que colam na roupa para conhecer a diferença entre manacá e quaresmeira. “Estimulo o contato físico.” O que ela gostaria para a cidade? “Despertar nos paulistanos a sensibilidade para as árvores.” Para ela, a percepção das espécies que estão no caminho de cada um no dia a dia pode ser uma “meditação no caos de São Paulo”. As árvores, segundo ela, ensinam sobre o tempo. Não o do relógio, mas o tempo das coisas na vida. Afinal, elas se modificam seguindo as mudanças das estações, filosofa Juliana, que organiza em setembro a 1ª semana cultural das árvores, no Parque da Luz. matéria JT – sábado dia 7 de agosto 2010 caderno metrópole – estadão – 7 de agosto de 2010
Um pouco da história do Árvores Vivas – por Gilberto Dimenstein
São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2010 GILBERTO DIMENSTEIN De galho em galho Ela testa uma profissão, ainda não ensinada nas faculdades: guia de árvores num centro urbano A DESIGNER Juliana Gatti anda pelas ruas, seguida por um grupo de curiosos interessados em conhecer as árvores da cidade de São Paulo. Vistos ao longe, eles parecem apenas fazer um passeio turístico. Mas esse é um novo tipo de turismo. Nessas caminhadas, ela testa uma nova profissão, ainda não ensinada nas faculdades: guia de árvores num centro urbano. Essa experiência profissional é uma volta à infância e à adolescência, quando Juliana passava quase todas as férias no sítio de seu avô em Tietê, cidade do interior de São Paulo. “Para mim, bastava ficar sentada debaixo das árvores brincando.” Conseguia até reproduzir um pouco dessa sensação fora das férias. Estudava numa escola (Santa Marcelina) em Pinheiros, onde havia um bosque. Era onde ela gostava de ficar lendo, sentada na terra. Seguiu a carreira de designer, na qual já fez de tudo um pouco: cenografia, móveis, joias, cartazes, vinhetas para televisão e até roupas. Também chegou a promover eventos. Foi, entretanto, no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), onde trabalhou na análise de madeiras, que despertou sua curiosidade por conhecer as árvores de que se originava o material que chegava às suas mãos. “Percebi, então, que não conhecia as ár vores da minha própria cidade.” Percebeu também que quase ninguém conhecia o mínimo da flora paulistana. Resolveu, então, redesenhar sua carreira. Juliana montou um grupo com um arquiteto, uma paisagista e uma bióloga para formatar os passeios, convidando crianças, adolescentes e pessoas da terceira idade a integrá-lo. Criaram, então, o projeto Árvores Vivas. Escolas e, mais recentemente, unidades do Sesc começaram a chamá-la. Na próxima semana, em companhia de seus alunos, ela vai fazer um reconhecimento da região em torno do Sesc Consolação, onde há um esforço comunitário para plantar árvores. As caminhadas se converteram num projeto digital. Durante todo o trajeto, são tiradas fotos das árvores tanto pelos alunos como pelos monitores. As centenas de fotos das árvores estão sendo inseridas em mapas na internet. Montou-se um mapa das árvores, facilm ente localizáveis pelo computador. “Descobrimos que poderíamos compartilhar nossas caminhadas.” Juliana ainda não sabe se vai conseguir manter a sustentabilidade do projeto, mas, pelo menos, está gostando -e muito- do que vem fazendo. “Enfim, acho que descobri minha paixão.” Antes, sentia-se confusa profissionalmente e “pulando de galho em galho”. Conseguiu trazer para seu trabalho um pouco do sítio de seu avô. Com a diferença de que agora as férias não precisam acabar. PS- Coloquei na internet (www.catracalivre.com.br) uma coleção de fotografias das árvores vistas nesses passeios. Leia matéria acima clicando na imagem até que fique legível. Escute também a matéria na CBN no MAIS SÃO PAULO com Gilberto Dimenstein. Designer cria uma nova profissão: guia de árvores Acesse também o site do Catraca Livre para ver algumas das fotos. Participem do PASSEIO VERDE que acontecerá dia 19 e 26 de junho, sábados, das 12 à 15hrs no SESC CONSOLAÇÃO. Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2010 Texto Anterior | Próximo Texto | ÍndiceGILBERTO DIMENSTEIN De galho em galho Ela testa uma profissão, ainda não ensinada nas faculdades: guia de árvores num centro urbano A DESIGNER Juliana Gatti anda pelas ruas, seguida por um grupo de curiosos interessados em conhecer as árvores da cidade de São Paulo. Vistos ao longe, eles parecem apenas fazer um passeio turístico. Mas esse é um novo tipo de turismo. Nessas caminhadas, ela testa uma nova profissão, ainda não ensinada nas faculdades: guia de árvores num centro urbano. Essa experiência profissional é uma volta à infância e à adolescência, quando Juliana passava quase todas as férias no sítio de seu avô em Tietê, cidade do interior de São Paulo. “Para mim, bastava ficar sentada debaixo das árvores brincando.” Conseguia até reproduzir um pouco dessa sensação fora das férias. Estudava numa escola (Santa Marcelina) em Pinheiros, onde havia um bosque. Era onde ela gostava de ficar lendo, sentada na terra. Seguiu a carreira de designer, na qual já fez de tudo um pouco: cenografia, móveis, joias, cartazes, vinhetas para televisão e até roupas. Também chegou a promover eventos. Foi, entretanto, no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), onde trabalhou na análise de madeiras, que despertou sua curiosidade por conhecer as árvores de que se originava o material que chegava às suas mãos. “Percebi, então, que não conhecia as ár vores da minha própria cidade.” Percebeu também que quase ninguém conhecia o mínimo da flora paulistana. Resolveu, então, redesenhar sua carreira. Juliana montou um grupo com um arquiteto, uma paisagista e uma bióloga para formatar os passeios, convidando crianças, adolescentes e pessoas da terceira idade a integrá-lo. Criaram, então, o projeto Árvores Vivas. Escolas e, mais recentemente, unidades do Sesc começaram a chamá-la. Na próxima semana, em companhia de seus alunos, ela vai fazer um reconhecimento da região em torno do Sesc Consolação, onde há um esforço comunitário para plantar árvores. As caminhadas se converteram num projeto digital. Durante todo o trajeto, são tiradas fotos das árvores tanto pelos alunos como pelos monitores. As centenas de fotos das árvores estão sendo inseridas em mapas na internet. Montou-se um mapa das árvores, facilm ente localizáveis pelo computador. “Descobrimos que poderíamos compartilhar nossas caminhadas.” Juliana ainda não sabe se vai conseguir manter a sustentabilidade do projeto, mas, pelo menos, está gostando -e muito- do que vem fazendo. “Enfim, acho que descobri minha paixão.” Antes, sentia-se confusa profissionalmente e “pulando de galho em galho”. Conseguiu trazer para seu trabalho um pouco do sítio de seu avô. Com a diferença de que agora as férias não precisam acabar. PS- Coloquei na internet (www.catracalivre.com.br) uma coleção de fotografias das árvores vistas nesses passeios.